quarta-feira, 20 de junho de 2012

Preconceitos acadêmicos: um estudo de caso

Autor: Ramon Cardinali


O preconceito acadêmico é um fenômeno comum e razoavelmente compreensível.
Nós simplesmente não temos tempo e recursos suficientes para nos aprofundar no estudo de todas escolas filosóficas, psicológicas, sociológicas etc., e em decorrência disso, as chances de que nós venhamos a desenvolver concepções reduzidas/simplificadas de tudo aquilo que foge aos nossos interesses mais imediatos são bastante elevadas. Soma-se a isso o fato de inúmeros fatores sócio-culturais (dentro e fora do âmbito acadêmico) se agregarem no sentido de favorecer o surgimento e a manutenção de uma espécie de "culto à autoridade", onde muito do que é dito por doutores, professores e cientistas é tomado como verdade absoluta e instantânea.

Quando alguém afirma que não gosta da Psicanálise porque ela "interpreta todos os fenômenos humanos apenas em termos de sexualidade" (ou em versão taquigráfica: pra Psicanálise "tudo é sexo!"), evidencia a formação daquilo que estou chamando de um preconceito acadêmico - no caso, uma descrição excessivamente simplificada/reduzida da teoria psicanalítica. Será que esta pessoa - nosso crítico fictício da Psicanálise - já se debruçou sobre as discussões a respeito da noção de "sexo" em Freud? Mais do que isso, será que ela tem o mínimo de interesse e ou condições (tempo e recursos principalmente) de fazer isto? Provavelmente ela construiu uma concepção simplificada da Psicanálise baseada única e exclusivamente naquilo que ouviu falar ou leu de maneira despretenciosa.¹

domingo, 10 de junho de 2012

Apenas no começo de uma nova ciência...

Autor: Vinícius Garcia

O texto abaixo foi redigido como esclarecimento aos pais de uma criança autista, cuja mãe era psicóloga e afeita à psicanálise. Baseado em citações de Freud presentes na excelente monografia de autoria de Pedro Sampaio - Psicanálise e Behaviorismo Radical: um paralelo epistemológico -, trata-se de um texto que sintetiza didaticamente informações históricas importantes que possivelmente se relacionam com o atual embate epistemológico entre psicanalistas e analistas do comportamento no campo do tratamento do autismo.


domingo, 3 de junho de 2012

Ciência, cientificismo e outros "ismos"


Autor: Pedro Sampaio



A estima com relação à ciência parece variar desde a total confiança até o mais completo descrédito. Há desde aqueles que tomam “científico” como sinônimo de “verdadeiro”, até aqueles que vêem a ciência como uma maneira limitada de compreender os fenômenos, além de viver mais de erros do que de acertos.

Muitos de nós conhecemos pessoas que representam bem estes dois extremos. Por exemplo, não é incomum conhecermos pessoas que, por ouvirem na televisão que os cientistas descobriram que comer ovo faz bem, passam imediatamente a comer ovos. Se no mês seguinte lêem no jornal que cientistas descobriram que comer ovo faz mal, imediatamente cortam os ovos de sua dieta. Da mesma forma, rejeitam práticas diversas sem sequer a conhecerem por não serem “comprovadas científicamente”, mesmo sem saber exatamente por que não o são.

No outro extremo temos aqueles que acreditam que a ciência respaldar ou rejeitar algo não quer dizer muita coisa. Afinal, se os cientistas dizem hoje que ovo faz bem e daqui a um mês que faz mal, qual a credibilidade? Além de tudo, a ciência parece rejeitar coisas que para muitos parecem fazer muito sentido, como a astrologia, e práticas cujos resultados eles já sentiram na pele, como a homeopatia. Como a ciência poderia saber mais que minha própria experiência?

O meio acadêmico reflete, de uma forma ou de outra, essa amplitude de pareceres do senso comum com relação à ciência. Assim, há também no meio acadêmico um debate a respeito do ônus do conhecimento científico, destacadamente entre as ciências ditas humanas e sociais. Não é raro ouvir em uma universidade tanto professores quanto alunos dizendo coisas como “claro que isso é verdade! Isso é cientificamente comprovado!” ou “essa visão sua é muito cientificista. É muito reducionista, você têm que considerar coisas que fogem do escopo da ciência”.

Mas afinal, o que significa ser “cientificista”, “reducionista”, “positivista” e outros adjetivos similares frequentemente utilizados para taxar defensores de uma compreensão científica dos fenômenos?