Autor: Ramon Cardinali
O preconceito acadêmico é um fenômeno comum e razoavelmente compreensível. Nós simplesmente não temos tempo e recursos suficientes para nos aprofundar no estudo de todas escolas filosóficas, psicológicas, sociológicas etc., e em decorrência disso, as chances de que nós venhamos a desenvolver concepções reduzidas/simplificadas de tudo aquilo que foge aos nossos interesses mais imediatos são bastante elevadas. Soma-se a isso o fato de inúmeros fatores sócio-culturais (dentro e fora do âmbito acadêmico) se agregarem no sentido de favorecer o surgimento e a manutenção de uma espécie de "culto à autoridade", onde muito do que é dito por doutores, professores e cientistas é tomado como verdade absoluta e instantânea.
Quando
alguém afirma que não gosta da Psicanálise porque ela "interpreta todos
os fenômenos humanos apenas em termos de sexualidade" (ou em versão
taquigráfica: pra Psicanálise "tudo é sexo!"), evidencia a formação
daquilo que estou chamando de um preconceito acadêmico - no caso, uma
descrição excessivamente simplificada/reduzida da teoria psicanalítica.
Será que esta pessoa -
nosso crítico fictício da Psicanálise - já se debruçou sobre as
discussões a respeito da noção de "sexo" em Freud? Mais do que isso,
será que ela tem o mínimo
de interesse e ou condições (tempo e recursos principalmente) de fazer
isto? Provavelmente ela construiu uma concepção simplificada da
Psicanálise baseada única e exclusivamente naquilo que ouviu falar ou
leu de maneira despretenciosa.¹