quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O quanto sabemos sobre nós mesmos

Autor: Nicolau Chaud(1)
Seção Circulando Ideias

Uma das principais contribuições de Skinner diante das formas anteriores de comportamentalismo e à Psicologia como um todo foi a asserção de que eventos privados estão sujeitos às mesmas leis naturais que outros eventos comportamentais. Com isso, pensamentos, emoções e imaginação saíram do limbo onde haviam sido colocados pelos behavioristas metodológicos, mas também desceram do pedestal onde eram mantidos pelas psicologias mentalistas, passando a ocupar posição de igualdade com outros eventos comportamentais, pelo menos de um ponto de vista epistemológico.

Apesar da proposição, existe um viés cultural que dá importância especial àquilo que ocorre “debaixo da pele”. No senso comum, o acesso a eventos privados seria responsável pelo fato de uma pessoa ter um conhecimento sobre si próprio (autoconhecimento – tomado como repertório autodescritivo) superior ao conhecimento que outras pessoas tem dela. Em uma visão comum, nossas ideias, pensamentos e emoções definem aquilo que nos torna únicos e especiais. Tal viés ainda permeia algumas análises comportamentais, como ocorre às vezes em descrições sobre emoções, auto-regras e autoconhecimento.

Surge um impasse na tentativa de explicar tal forma de autoconhecimento em uma análise comportamental quando reconhecemos que o conhecimento sobre si próprio é construído nas relações interpessoais. Relatos sobre o próprio comportamento são aprendidos mediante contingências dispostas pela comunidade verbal, e tais contingências só podem operar quando essa comunidade tem acesso ao nosso comportamento. O que acontece quando nosso comportamento não é acessível por ninguém mais além de nós mesmos?